Editorial Dossiê Temático: “As transformações no mundo do trabalho”
As transformações ocorridas no mundo do trabalho a partir do contexto da pandemia da COVID-19 intensificaram os usos da tecnologia na reorganização do trabalho, especificamente na modalidade remota. Com maior impacto para as empresas que não utilizavam o trabalho à distância, muitos trabalhadores tiveram que adaptar suas práticas laborais em função dasatividadesrealizadasem home office, por meio de arranjos para sua execução.Vale ressaltar que o celebrado “mundo digital” não surgiu com a pandemia. A internet, a microeletrônica ou mesmo o teletrabalho já estavam no escopo das grandes corporações como algo em andamento ou a ser realizado. Contudo, a precipitação do isolamento social em grande parte do mundo, e igualmente no Brasil (não obstante os movimentos de “abre e fecha de partes do setor público e privado”) acelerou a mudança.
No Brasil, com sua multidão de pequenos negócios de orçamento reduzido e empregos informais, a realidade tem sido, pois ainda não acabou, já que em um ano e cinco meses depois de decretada a pandemia pela Organização mundial de Saúde, seguimos com a marca superior a 200 mortes por dia. Com isso, houve encerramento das atividades para alguns e para os que têm conseguido se manter abertos, a adaptação do “analógico” para o “digital” exigiu uma transformação, inclusive, da nossa mentalidade para aceitação e dominação das competências tecnológicas necessárias. Para as grandes empresas a situação tem sido distinta: como manter o funcionamento e a produtividade apesar das demandas desse“novo tempo”? É nesse contexto que os artigos a seguir buscam refletir sobre como o trabalho tem se transformado nas últimas décadas, mais especificamente como a pandemia acelerou esse processo, modificando conjuntamente as noções de carreira, empregabilidade, jornada de trabalho sem, contudo, representar uma ruptura com a relação entre capital e trabalho.
Entre os artigos que compõem este dossiê, apresentamos “A categoria força de trabalho e a Crítica da Economia Política: Marx em duas décadas de estudos econômicos (1847-1865)”,no qual Henrique Wellen e Elton Rosaapresentam uma importante contribuição acerca do pensamento marxiano ao retratar as transformações no trato das categorias trabalho e força de trabalho em obras escritas entre 1847 e 1865. Os detalhes da diferenciação entre ambas as categorias culminam na principal contribuição dos autores: a teoria da mais-valia, que demonstra que a acumulação de capital ocorre mesmo quando as trocas mercantis são equivalentes.Adiante, temos o artigo “Empregabilidade profissional: um estudo sobre os egressos do curso de Bacharelado em Secretariado Executivo do Instituto Federal de Mato Grosso –IFMT”, das autoras Tatiane Oliveira e Keyla Christina Almeida Portela, que se propuseram verificar o impacto do curso de Bacharelado em Secretariado Executivo do Instituto Federal de Mato Grosso –IFMT –sobre a empregabilidade de seus egressos. A temática da empregabilidade na área de Secretariado surge com a necessidade, sobretudo, de mapear onde os egressos dos cursos estão atuando. Por isso, esse artigo é bastante promissor, já que apresenta dados coletados com diversos egressos da referida instituição de ensino sobre a sua percepção referente à empregabilidade e a necessidade de formação continuada. Faz parte desta edição, também, o artigo intitulado “Impactos da Indústria 4.0 na atuação dos profissionais de Secretariado Executivo”,de autoria deIvanete Daga Cielo, Luciana Dourado, Carla Maria Schmidt e Fernanda Cristina Sanches-Canevesi, o qual problematiza o impactados da Revolução 4.0 causados aos profissionais de Secretariado, já que as configurações das organizações, do mercado de trabalho, e o perfil desses profissionais têm passado por transformações. Desse modo, esse artigo se propôs a investigar as características, potencialidades e desafios da Indústria 4.0, visandoanalisar suas possíveis implicações na atuação dos profissionais de secretariado executivo.Outro trabalho apresentado é intitulado “O processo de mudança organizacional sob a ótica das âncoras de carreira: possíveis correlações no contexto da pandemia donovo coronavírus –COVID-19”, de autoria de Marco Aurélio Amaral de Castro, e teve como objetivo verificar as correspondências entre as âncoras de carreira e as mudanças organizacionais percebidas no contexto da pandemia do novo coronavírus –COVID-19. Apesquisa de natureza qualitativa foi realizada com quatorze trabalhadores de múltiplas organizações e os resultados indicam mudanças organizacionais no contexto da COVID-19, apresentando aos profissionais um ambiente de oportunidades.Em seguida, temos a oportunidade de ler o ensaio teórico “O que faz um profissional de secretariado executivo? A construção identitária de um perfil profissional”,elaborado pelo autor Rodrigo Müller, que discute o fazer secretarial em suas dimensões prática e do sujeito profissional. Para isso, trouxe autores que discutem e problematizam a construção do perfil dos secretários executivos a partir das suas atribuições. Portanto, o autor nos leva a refletir a prática profissional sob a ótica de um modelo identitário, a fim de contribuir e provocar novas perguntas e inquietações sobre a identidade da profissão de Secretariado Executivo, pois não é uma questão tão simples e objetiva de responder e exige muita discussão teórica.O artigo “Uma experiência de aprendizagem interdisciplinar em contexto de pandemia: agregação de competências no curso de Secretariado e Comunicação Empresarial da ESTGA-UA”, de autoria de Sílvia Isabel do Rosário Ribeiro e Ana Rita Calvão, trata de uma experiênciade trabalho interdisciplinar desenvolvida, em agregação de competências, no contexto de duas unidades curriculares (UC) do curso de Licenciatura em Secretariado e Comunicação Empresarial (SCE), ministrado na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda da Universidade de Aveiro (ESTGA-UA), em Portugal. O objetivo foi apontar as percepções dos estudantes a respeito da opção pela agregação de competências, salientando-se, porém, as dificuldades sentidas em nível de trabalho em grupo.
Agradecemos a todos e todas que colaboraram com esta edição especial da Revista SCRIBES e convidamos os leitores e as leitoras a saber um pouco mais sobre as transformações no mundo do trabalho.